É chegado o momento de as ideias do povo brasileiro fazerem sexo[1].
Durante 516 anos, mirando o poder público, só falamos do sexo dos donos
do poder (classes dominantes e reinantes). Ao longo da história,
quantos rios de tinta e verborragia foram gastos para falar de amantes
de FHC, Lula, Collor, Ademar de Barros, Renan, D. Pedro I, D. Pedro II
etc.?
FHC teria pago pensão
para sua amante por meio de um contrato de trabalho falso feito por uma
concessionária de lojas nos aeroportos brasileiros (Brasif). A pensão da
amante de Renan foi paga pela empreiteira Mendes Júnior. Collor teria
usado o poder para ter amante famosa. No último debate da campanha de
1989 não se falou de outra coisa senão da amante de Lula.
Um país
exaurido, com 150 milhões de analfabetos funcionais, mergulhado em
profundas crises (política, econômica e sociais), tem que progredir e
varrer da vida pública todos os seus “heróis sem caráter”
(mucanaímicos). A Operação Lava Jato deveria ser o ponto de partida para
uma evolução comportamental.
Todo mundo sabe que a corrupção é errada[2]:
O sociólogo sueco Bo Rothstein afirma que “[os delinquentes econômicos
cleptocratas, leia-se] os corruptos sabem que essa prática é imoral e
danosa para a sociedade. Mas isso não é suficiente para evitá-la; não
basta internalizar os efeitos malignos para a sociedade de uma prática;
impõe-se criar os incentivos (e obstáculos) adequados para que as
pessoas não se envolvam nela”. Nossa tolerância mucanaímica é que
precisa ser proscrita.
Quem, por corrupção, incompetência e
pilhagens eleitorais, afunda uma das maiores empresas petrolíferas do
mundo (Petrobras), esse é o caso do lulopetismo e seus comparsas, claro
que deveria ser rifado do jogo político (pela via jurídica ou pelo
voto).
Quem, para complementar os rendimentos de seu filho
extraconjugal e de sua ex-amante no exterior, é suspeito de ter sido
beneficiado por um contrato falso de uma empresa concessionária de lojas
nos aeroportos (duty free – Brasif), claro que deve ser desmascarado e desacreditado (porque um falso herói).
O
dono da Brasif (Jonas Barcelos), a propósito, confirmou que ajudou FHC
(sem pedido dele) e mandou recursos para o exterior para Mirian Dutra,
que foi amante do ex-presidente nos anos 80-90. Tudo feito por meio de
um contrato fictício de trabalho (o crime de falsidade, desde logo, é
inequívoco)[3].
A relação extraconjugal entre FHC e Mirian esgota a dualidade sexo e
poder (sedução, desejos e gozos recíprocos). A parte do dinheiro (na
trilogia) vem agora: o dono da Brasif tinha e tem excelentes conexões
com as cortes (tanto de FHC como de Lula).
Em 1997, quando o governo FHC reduziu de US$ 500 para US$ 300 dólares o máximo que se podia comprar nas lojas duty free
dos aeroportos, seu poder de influência falou mais alto. Prontamente a
mudança foi abandonada (e voltou o valor original). Antonio Palocci,
ex-ministro da fazenda no governo lulopetista, foi consultor da Brasif,
que foi vendida em 2006 para a empresa suíça Dufry (e nisso teria havido
“ajuda” – envolvimento – de membros do governo petista – ver Ricardo
Noblat). Isso justificaria a postura amena do PT no affair FHC.
É preciso se indignar! (Stéphane Hessel)
As
mentiras que todas as grandes lideranças contam (impunemente), cada uma
tentando preservar hipocritamente perante seus cegos sectários uma
honra impoluta de que não desfrutam (a emenda do segundo mandato de FHC
foi “comprada” – ele mesmo admitiu isso à Folha), nos deixa cada
vez mais contristados e abatidos, mas mesmo assim é preciso ter agudeza
de espírito para examinar com imparcialidade o fluxo veloz de mentiras e
decepções que nos assombram e encabulam.
O que há de pior para o
predomínio da razão, no entanto, é a postura do inimigo carregado de
fel e de desbriamento, porque mais facilmente tomado pela mesma cegueira
dos fanáticos, ainda quando esteja diante de uma espantosa e avantajada
verdade.
Já não haveria nenhuma necessidade de ficar explorando o
tétrico e pútrido cenário nacional, protagonizado por barões ladrões de
todas as colorações ideológicas e partidárias, desde o Brasil colônia.
Mas ocorre que é preciso se indignar!
É preciso deixar palavras
ressoando, ao sabor dos ventos áridos em todos os tempos tortuosos. Vale
a pena sempre pesar o que realmente importa para uma vida coletiva
comum. Quem vive sem nenhuma bandeira inspiradora não vive, existe!
As ideias necessitam acasalamento
Nas
outras espécies animais o nascimento, crescimento, amadurecimento e a
morte atendem a programas da natureza. O humano é distinto, porque ele
pode progredir em cada etapa da vida (infância, adolescência, idade
adulta, idade madura), levando em conta suas experiências pretéritas
(Adam Ferguson).
Uma flecha e um computador com inteligência
artificial retratam níveis de conhecimentos muito diferentes. Já
progredimos bastante (mas precisamos de mais conhecimento). A natureza
humana não muda em algumas coisas: busca por comida, por prazer sexual,
cuidado com os filhos, concorrência por status, ânimo lucrativo (ganância), evitar dor, medo de altura, medo de insetos e de cobras etc. Isso é natura.
A natura
muda lentamente e é fruto da evolução genética (decorrente da prática
sexual). A cultura humana pode mudar rapidamente, em virtude da evolução
das ideias (que devem se acasalar, se juntar). Singapura e Hong Kong
eram dois países completamente corruptos (muito mais que o Brasil hoje).
Mudaram nas décadas de 50/60, do século XX (agora ocupam os primeiros
lugares na Transparência Internacional).
Nossa capacidade de
aprendizado social é incrível (adaptação darwiniana). Nossa tendência
para a imitação (G. Tarde) é inevitável. Acasalando-se nossas ideias e
iniciativas, incrementamos nossa inteligência coletiva. O corpo humano é
fruto da evolução dos genes em bilhões de anos. As sociedades com
pouquíssima corrupção são consequência da evolução cultural das ideias e
dos comportamentos. É preciso que nossas ideias e nossos comportamentos
façam sexo[4].
Podemos
ser melhores seres humanos. O canto do mundo que habitamos (Brasil)
pode ser muito melhor do que as burras e corruptas elites nos mostraram
até aqui. Quem criou os trilhos só prosperou quando se encontrou com a
locomotiva. Que seria da roda sem o aço? A cultura só evolui quando
trocamos experiências. A troca está para a evolução cultural como o sexo
está para a evolução biológica[5].
[2] Ver http://www.pol.gu.se/digitalAssets/1350/1350652_2007_3_rothstein.pdf, consultado em 30/12/15.
[3] Ver BERGAMO, Mônica – http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/02/1740563-fhc-usou-empresa-para-me-bancar-no-exterior-afirma-ex-namorada.shtml, consultado em 25/02/16.
[4] Ver RIDLEY, Matt. O otimista racional. Tradução Ana Maria Mandim. Rio de Janeiro: Record, 2014, p. 14-15.
[5] Ver RIDLEY, Matt. O otimista racional. Tradução Ana Maria Mandim. Rio de Janeiro: Record, 2014, p. 16.